Mãe Coruja / Quem ama o feio…

As expressões mãe coruja e quem ama o feio bonito lhe parece são das mais curiosas e se originam de uma mesma fábula de Esopo, escritor grego do século VI a.C.. Um clássico da cultura ocidental.

Outros escritores reescreveram essas fábulas, dentre eles, La Fontaine.

No Brasil, Monteiro Lobato nos apresenta sua versão:

 A Coruja e a Águia

Coruja e águia, depois de muita briga resolveram fazer as pazes.

– Basta de guerra — disse a coruja.  –  O mundo é grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

– Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra coisa.

– Nesse caso combinemos isso:  de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

– Muito bem.  Mas como posso distinguir os teus filhotes? 

– Coisa fácil.  Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

– Está feito! — concluiu a águia.

— Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

– Horríveis bichos! — disse ela.  — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhos da coruja.  Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.

– Quê?  — disse esta admirada.  — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos?  Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…

Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Já diz o ditado: quem o feio ama, bonito lhe parece.

Fábulas, São Paulo, Brasiliense, 1972, p. 10-11

Presente de grego

cavelo de troia

Com certeza essa expressão “presente de grego” não nos é estranha. E dizem que os gregos da atualidade reclamam quando a ouvem.

História e Mitologia se misturam na origem dessa expressão.

O presente de grego é, na verdade, o Cavalo de Tróia.

Narrativas da História Antiga, acrescidas de registros históricos trazem até nós os acontecimentos de épocas remotas.

Entre os anos 1300 a 1200 a.C teria havido uma guerra entre os povos grego e troiano.

Mas onde fica a cidade mitológica de Tróia?

Atualmente há um sitio arqueológico situado na Turquia que é reconhecido como sendo o local onde se situava Tróia.

Povos gregos teriam travado uma longa guerra, de dez anos, contra os troianos. O motivo da guerra teria sido o rapto de Helena, rainha de Esparta que era casada com o Rei Menelau, por Páris, o Príncipe de Tróia. Os gregos lutavam para levar Helena de volta e isso envolvia muitos outros motivos de lutas e conquistas.

Os gregos, inspirados por Odisseu, um astuto guerreiro grego, resolveram armar uma cilada. Construiram um grande cavalo de madeira que, sendo oco, em seu interior esconderam-se alguns soldados gregos.

Todo o exército então, retirou-se para os navios fingindo rendição, deixando o cavalo à porta de entrada da cidade de Tróia. Os troianos acreditando ser um presente deixado como sinal de rendição, introduziram o mesmo na cidade, toda cercada por muralhas. Durante a noite, os guerreiros gregos saíram do cavalo e abriram os portões para que o exército grego entrasse. Assim destruindo e incendiando a cidade de Tróia e vencendo a guerra.

Esses feitos heróicos foram descritos nas obras de Homero a Ilíada e a Odisséia.

A Guerra de Tróia foi tema de muitos filmes, sendo o último de 2004: TRÓIA (Troy).  Vale a pena ver.

Presente de grego – é algo oferecido por alguém, que traz prejuízo ou aborrecimentos a quem o recebe.

Maquiavélico!

O objetivo dos textos resumidos, aqui apresentados é, sem pretensões, apenas contribuir para atualizar conhecimentos ou aguçar a curiosidade sobre temas sobre os quais temos informações vagas e nos instigam a saber mais, portanto não se esgotam aqui. E esse é um dos temas curiosos…

No cenário político atual são recorrentes essas expressões: “ele é maquiavélico”; “que atitude maquiavélica!”

E o que se quer expressar com essas afirmações?

maquiavel

(1469-1527)

Nicolau Maquiavel, filósofo, pensador político, historiador, poeta e escritor italiano, nasceu em Florença em 1469 e morreu em 1527.

Escreveu várias obras, mas uma se destaca: O Príncipe – escrito em 1513, um manual prático oferecido como presente ao Príncipe Lorenzo de Médicis.

Nessa obra, analisa a sociedade da época, as ações e atitudes dos governantes tendo como pano de fundo a unificação da Itália.

Apresenta ao Príncipe lições e estratégias de como conquistar e manter o poder, numa visão fria e calculista.

Como resumo de seu pensamento sempre é citada a frase: “os fins justificam os meios”.

Maquiavel considerava a natureza humana como essencialmente má e os seres humanos estariam sempre interessados em obter o máximo de ganhos ou vantagens, com o menor esforço, e só fariam o bem quando forçados a isso.

Maquiavel expressou suas convicções em dez mandamentos:
1.       Zelai apenas por vossos interesses;

2.      Não honreis a mais ninguém além de vós;

3.      Fazei o mal, mas fingi fazer o bem;

4.      Cobiçai e procurai fazer tudo o que puderes;

5.      Sede miseráveis;

6.      Sede brutais;

7.      Lograi o próximo toda vez que puderdes;

8.      Matai os vossos inimigos e, se for necessário, os vossos amigos;

9.      Usai a força em vez da bondade ao tratardes com o próximo;

10.    Pensai exclusivamente na guerra.

Aí está sintetizado o pensamento de Maquiavel embora haja na literatura diversas interpretações de seus escritos.

Ao se afirmar que uma pessoa é maquiavélica ou que tais atitudes são maquiavélicas, com certeza, estamos identificando:

Pessoas ardilosas, astutas, enganadoras, que procuram parecer do bem, mas têm segundas intenções;

Pessoas que procuram conquistar o poder e se manter nele, custe o que custar; tentam destruir seus possíveis concorrentes; não têm ética nem moral em suas relações e atitudes; enfim, agem sem escrúpulos e são na verdade, perigosas!

Você conhece alguém com esse perfil?

Bode Expiatório

Já ouvi muitas vezes essa expressão: Eu não sou o bode expiatório dessa situação!

Expiatório? Que palavra mais estranha!

Expiar no dicionário significa: pagar, sofrer as conseqüências, remir a culpa, purificar-se de crimes ou pecados, isto é, expiar os pecados. Portanto, bode expiatório é o que expia os pecados de outros.

De onde se origina essa expressão?

Na Biblia, no Livro Levítico (capítulo 16) do Antigo Testamento, encontramos a descrição sobre o bode expiatório. Trata-se de um animal apartado do rebanho e deixado só no deserto como parte das cerimônias hebraicas.

“…tomará Arão dois bodes para oferta. Lançará sorte sobre os dois e sobre o que cair a sorte será apresentado vivo perante o Senhor, para fazer a expiação por meio dele e enviá-lo-á ao deserto como bode emissário. […] colocará as mãos sobre a cabeça do bode e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados e os porá sobre a cabeça do bode e enviá-lo-á ao deserto.”

Na teologia cristã, essa imagem é a prefiguração simbólica do auto-sacrifício de Cristo que chama a si os pecados da humanidade.

No sentido figurado “bode expiatório” é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar a culpa de uma calamidade, de um crime ou de qualquer fato negativo do qual ele nem participou.

Assim, procurar um bode expiatório é um ato condenável, por tentar atribuir a uma pessoa ou a um grupo a responsabilidade por um problema ou crime, sem a comprovação do fato.

Ao longo da história muitas pessoas, grupos ou minorias passaram a ser os “bodes expiatórios” por serem mais fracos ou indefesos.

O Homem Vitruviano

O desenho de Leonardo da Vinci, conhecido como o “Homem Vitruviano” aparece em muitas situações, desde convites de formatura até em tatuagens, em braços ou costas de jovens, mundo a fora, muitas vezes desconhecendo o significado.

homem vitruviano

esse é o desenho original de Leonardo Da Vinci

O nome “homem vitruviano” deriva de um trabalho realizado pelo arquiteto romano chamado Marcus Vitruvius Pollio que apresentou um estudo matemático no século I a. C. Nesse estudo Vitruvius descreve, num Tratado de Arquitetura, as proporções ideais do corpo humano. Esse conceito do modelo ideal para o ser humano inspirou Leonardo Da Vinci que em 1490, com base na descrição de Vitruvius fez o famoso desenho. Nele, Da Vinci representou as proporções ideais do corpo humano masculino. As proporções são perfeitas e expressam o ideal clássico da beleza. As posições dos braços e pernas expressam quatro posturas diferentes, inseridas num círculo e num quadrado, ao mesmo tempo. Expressa o conceito da “Divina Proporção” que se fundamenta numa das leis que regem o equilíbrio dos corpos , a harmonia das formas e dos movimentos. E esse conceito pode ser estendido ao Universo como um todo. Isso pode ser observado no mundo que nos cerca. Assim, quando achamos algo bonito, harmonioso , significa que essas formas obedecem a uma regra geométrica especial chamada proporção áurea.

Esse estudo demonstra que todas as medidas têm uma proporção exata, podendo ser comprovada.

Assim, dentre muitas medidas descritas no estudo, podemos destacar: a altura do corpo humano é igual à largura dos braços abertos. A cabeça de uma pessoa corresponde a 1/8 de sua altura total. A palma da mão (do pulso ao topo do dedo médio) equivale a 1/10 da altura do corpo. O pé representa 1/6 da altura do corpo. A face (do queixo ao topo da testa) equivale a 1/10 da altura do corpo.

O desenho original do Homem Vitruviano faz parte da “Gallerie dell’Accademia” em Veneza, Itália.

O CALCANHAR DE AQUILES –

A todo momento essa expressão é citada. Muitos políticos, comentaristas, pessoas comuns, em suas falas repetem: “o ‘calcanhar de Aquiles de fulano’ é esse!”

No entanto, poucos sabem do que estão falando. Essa expressão vem da mitologia grega. Aquiles, figura mitológica, considerado um semideus na Grécia antiga, foi um belo e famoso guerreiro da Guerra de Troia. Segundo a lenda ele era invulnerável, isto é, não poderia ser atingido em todo seu corpo, menos no calcanhar e sua morte teria ocorrido por uma flecha envenenada que atingiu seu calcanhar. Essa condição de ser invulnerável ocorreu por ter sua mãe Tetis mergulhado o filho ainda bebê nas águas do Rio Estige. Assim, todo seu corpo ficou invulnerável, menos o calcanhar por onde o segurou, ao ser mergulhado. Assim o calcanhar de Aquiles de alguém passa a significar seu ponto fraco, o ponto pelo qual pode ser atingido ou derrotado.